O destino dos pacientes idosos

 Um relato publicado recentemente em PSA Rising ilustra o percurso seguido por muitos idosos. É o de um paciente diagnosticado quinze anos antes e tratado com implantes radioativos que foi vitimado por outra doença, também característica de idades avançadas, que é a que mais impacto tem sobre a qualidade de vida do paciente.

Diz a senhora:

“há 15 anos, meu marido, Frank, foi diagnosticado e subsequentemente tratado com implantes de iodo radiotivo (braquiterapia). Aos 90 ele não faz mais testes de PSA. Infelizmente, ele foi diagnosticado com Altzheimer’s há sete anos e agora vive em uma residência especial, com assistência médica, perto de nossa casa. Eu o visito todos os dias e ele parece feliz.”

(minha tradução, não literal)

O caso de Frank exemplifica o que acontece com muitos pacientes de câncer da próstata: sobrevivem muitos anos e, se idosos, acabam tendo outras doenças e não morrem do câncer. A maioria dos pacientes diagnosticados com câncer da próstata, mesmo aqueles nos quais o PSA “volta”, morre de outra causa.

GLÁUCIO SOARES           IESP/UERJ

Onde o câncer da próstata mata mais?


Há uma polêmica entre médicos e entre associações nacionais de medicina de diferentes países. Essa polêmica vinha crescendo, mas teve um incremento extraordinário com a publicação, na Grã-Bretanha, de um trabalho afirmando que uma percentagem bem elevada dos ingleses que são diagnosticados com câncer da próstata acabam morrendo deste câncer, exatamente o contrário do que afirma a medicina dominante nos Estados Unidos, segundo a qual “muitos viveriam com câncer da próstata, mas poucos morreriam dele”


Os americanos são acusados de usar e abusar dos exames de PSA e de tratarem mais pacientes do que é necessário. Com isso, provocariam efeitos secundários sérios, como uma percentagem alta de impotência, outra de incontinência (menos freqüente e duradoura) etc. Os médicos americanos da “linha dura” não querem arriscar a ter mais pacientes mortos além daqueles que não conseguem mesmo salvar.

Uma lembrança aritmética: a percentagem aumenta se aumentarmos o numerador e também aumenta se diminuirmos o denominador. Os americanos afirmam que a taxa deles é mais baixa porque tratam mais e de maneira mais radical e muito europeus dizem que isso é falacioso, que as taxas americanas são artificialmente mais baixas do que as européias porque há muitos casos que, na Europa, não entrariam na estatística dos que tinham câncer (o denominador) e que nos Estados Unidos entram. Exemplo: um idoso de mais de 75, com um PSA na área cinza e nenhum outro indicador não seria biopsiado e não entraria nas estatísticas européias; nos Estados Unidos seria biopsiado e se algum câncer fosse encontrado seria tratado e entraria nas estatísticas dos “salvos”.

Os perigos são claros:

  1. tratar quem não precisa e vai morrer de outras causas devido à idade avançada e/ou a co-morbidades (outras doenças), criando medo e ansiedade, reduzindo a qualidade da vida, desnecessariamente, ou, do outro lado,
  2. não tratar, aconselhar ao “watchful waiting”, que muitos pacientes redefinem como “não são cancerosos”, deixando de tratar e curar ou postergar a morte por muitos anos de muitos pacientes.

As estatísticas brasileiras nos dão números que geram uma taxa de mortalidade de 38%, melhor que a da Europa do Sul e a da Europa do Norte. Mas nossas estatísticas – tanto de quem tem o câncer quanto de quem morre dele – são muito, mas muito deficientes. Eu não levo em consideração as estimativas para o Brasil.

GLÁUCIO SOARES

IESP/UERJ 

Onde os pacientes morrem mais?

Há uma polêmica entre médicos e entre associações nacionais de medicina de diferentes países. Essa polêmica vinha crescendo, mas teve um incremento extraordinário com a publicação, na Grã-Bretanha, de um trabalho afirmando que uma percentagem bem elevada dos ingleses que são diagnosticados com câncer da próstata acabam morrendo deste câncer, exatamente o contrário do que afirma a medicina dominante nos Estados Unidos, segundo a qual “muitos viveriam com câncer da próstata, mas poucos morreriam dele”


Os americanos são acusados de usar e abusar dos exames de PSA e de tratarem mais pacientes do que é necessário. Com isso, provocariam efeitos secundários sérios, como uma percentagem alta de impotência, outra de incontinência (menos freqüente e duradoura) etc. Os médicos americanos da “linha dura” não querem arriscar a ter mais pacientes mortos além daqueles que não conseguem mesmo salvar.

Uma lembrança aritmética: a percentagem aumenta se aumentarmos o numerador e também aumenta se diminuirmos o denominador. Os americanos afirmam que a taxa deles é mais baixa porque tratam mais e de maneira mais radical e muito europeus dizem que isso é falacioso, que as taxas americanas são artificialmente mais baixas do que as européias porque há muitos casos que, na Europa, não entrariam na estatística dos que tinham câncer (o denominador) e que nos Estados Unidos entram. Exemplo: um idoso de mais de 75, com um PSA na área cinza e nenhum outro indicador não seria biopsiado e não entraria nas estatísticas européias; nos Estados Unidos seria biopsiado e se algum câncer fosse encontrado seria tratado e entraria nas estatísticas dos “salvos”.

Os perigos são claros:

  1. tratar quem não precisa e vai morrer de outras causas devido à idade avançada e/ou a co-morbidades (outras doenças), criando medo e ansiedade, reduzindo a qualidade da vida, desnecessariamente, ou, do outro lado,
  2. não tratar, aconselhar ao “watchful waiting”, que muitos pacientes redefinem como “não são cancerosos”, deixando de tratar e curar ou postergar a morte por muitos anos de muitos pacientes.

As estatísticas brasileiras nos dão números que geram uma taxa de mortalidade de 38%, melhor que a da Europa do Sul e a da Europa do Norte. Mas nossas estatísticas – tanto de quem tem o câncer quanto de quem morre dele – são muito, mas muito deficientes. Eu não levo em consideração as estimativas para o Brasil.

GLÁUCIO SOARES

IESP/UERJ

Onde os pacientes morrem mais?


Há uma polêmica entre médicos e entre associações nacionais de medicina de diferentes países. Essa polêmica vinha crescendo, mas teve um incremento extraordinário com a publicação, na Grã-Bretanha, de um trabalho afirmando que uma percentagem bem elevada dos ingleses que são diagnosticados com câncer da próstata acabam morrendo deste câncer, exatamente o contrário do que afirma a medicina dominante nos Estados Unidos, segundo a qual “muitos viveriam com câncer da próstata, mas poucos morreriam dele”

Os americanos são acusados de usar e abusar dos exames de PSA e de tratarem mais pacientes do que é necessário. Com isso, provocariam efeitos secundários sérios, como uma percentagem alta de impotência, outra de incontinência (menos freqüente e duradoura) etc. Os médicos americanos da “linha dura” não querem arriscar a ter mais pacientes mortos além daqueles que não conseguem mesmo salvar.

Uma lembrança aritmética: a percentagem aumenta se aumentarmos o numerador e também aumenta se diminuirmos o denominador. Os americanos afirmam que a taxa deles é mais baixa porque tratam mais e de maneira mais radical e muito europeus dizem que isso é falacioso, que as taxas americanas são artificialmente mais baixas do que as européias porque há muitos casos que, na Europa, não entrariam na estatística dos que tinham câncer (o denominador) e que nos Estados Unidos entram. Exemplo: um idoso de mais de 75, com um PSA na área cinza e nenhum outro indicador não seria biopsiado e não entraria nas estatísticas européias; nos Estados Unidos seria biopsiado e se algum câncer fosse encontrado seria tratado e entraria nas estatísticas dos “salvos”.

Os perigos são claros:

  1. tratar quem não precisa e vai morrer de outras causas devido à idade avançada e/ou a co-morbidades (outras doenças), criando medo e ansiedade, reduzindo a qualidade da vida, desnecessariamente, ou, do outro lado,
  2. não tratar, aconselhar ao “watchful waiting”, que muitos pacientes redefinem como “não são cancerosos”, deixando de tratar e curar ou postergar a morte por muitos anos de muitos pacientes.

As estatísticas brasileiras nos dão números que geram uma taxa de mortalidade de 38%, melhor que a da Europa do Sul e a da Europa do Norte. Mas nossas estatísticas – tanto de quem tem o câncer quanto de quem morre dele – são muito, mas muito deficientes. Eu não levo em consideração as estimativas para o Brasil.


 

GLÁUCIO SOARES

IESP/UERJ

ABIRATERONA NAS FARMÁCIAS!

Há poucos anos, dois ou três, a mídia fez um festival em cima da abiraterona (acetato de abiraterona). Falou-se, até, em cura. Mídia, media hype, é o que foi.

Agora o medicamento foi aprovado pela FDA com base em resultados muito, mas muito mais modestos. Quem já esgotou todos os recursos e nem a químio funciona mais, não tem muito tempo de vida (ainda que, dada a idade avançada, uma percentagem significativa morra de outras causas mesmo nessa população). O nome que já está nas farmácias americanas é Zytiga.

Nessa população sem outras opções (ou apenas uma ou duas de pouca duração), os que tomaram o esteróide prednisona viveram mais 10,9 meses, na mediana. Mediana = metade viveu mais; metade viveu menos. Já os que tomaram prednisona mais Zytiga viveram 14,8 meses, um ganho maior – de quase quatro meses. Como se trata de mediana há os que não responderam ao medicamento e morreram em poucos meses e há os que continuavam vivos três e mais anos depois.

Claro está que se aplicados a uma população não tão doente, os resultados devem ser melhores e é isso o que estão verificando.

A pesquisa foi feita com quase mil e duzentos pacientes, em 13 países.

Mas não é só a sobrevivência que aumenta: a fadiga é menor, as dores nas costas e a compressão da espinha também. A qualidade da vida melhora, por esse tempo limitado, pouco mais de um ano.

São quatro pílulas por dia, ao custo mensal de cinco mil dólares. Há efeitos colaterais (numa população que já passou por muitos e piores efeitos colaterais): baixam as células brancas, há retenção de fluidos, aumenta a pressão arterial e os problemas cardíacos são agravados.

É muito menos do que foi anunciado de maneira irresponsável pela imprensa, mas é um avanço para quem já não tem opções.

GLÁUCIO SOARES

Bons resultados da Vitamina C

Algumas pesquisas condenaram a vitamina C à irrelevância no que concerne o câncer da próstata. Porém, uma nova pesquisa, ainda com camundongos, sugere que talvez a vitamina C ajude no tratamento.

Os camundongos receberam células cancerosas de tipo PA III, que eram resistentes ao tratamento (anti)hormonal. As cobaias receberam injeções intraperitoneais diárias durante um mês, com doses farmacológicas de vitamina C. Depois de quarenta dias os tumores dos camundongos foram pesados e medidos e as metástases foram contadas.

Quais os resultados?

  • Os tumores primários, originais, foram reduzidos e perderam peso e
  • Metástases sub-pleurais diminuíram em número e tamanho;
  • Metástases para os nódulos linfáticos foram reduzidas de sete para uma.

A conclusão de Pollard et AL. é que o a vitamina C em doses farmacológicas reduz (ou suprime) o crescimento dos tumores em cânceres que já não respondem ao tratamento (anti)hormonal.

Essa é uma vitamina que se encontra em vários vegetais, como nossa conhecida acerola e, em doses menores, em todas as frutas cítricas.

A pesquisa e seus resultados foi publicada em May-June 2010 issue of In Vivo, maio e junho de 2010.

Escrito por Gláucio Soares
com base em resumo de divulgação da pesquisa

Será que o Avodart pode retardar alguns cancers?


A disputa sobre o Avodart é antiga. Vários artigos sugeriam um benefício. Mas tinham um problema de origem: o autor de quase todos, Andreole, tem vínculos conhecidos e admitidos publicamente com a empresa que o fabrica, a GlaxoSmithKline.

Outros estudos apareceram, demonstrando que o medicamento baixava “artificialmente” o PSA. Dificultava a expressão do PSA, mas não tocava no câncer. Ora, o que se quer curar é o câncer e não o PSA…

Surgiram mais estudos recentes sugerindo que o Avodart, afinal de contas, tem um efeito positivo. O Avodart era usado para tratar próstatas artificialmente grandes e não o câncer. O que “surgiu” é que o Avodart desacelera o câncer. Uma implicação, dependendo da idade e estado geral de saúde do paciente, é tornar desnecessários procedimentos de diagnósticos e curativos que sejam caros e dolorosos. Os pacientes, com o câncer crescendo mais lentamente, podem “ficar de olho” na doença sem uma intervenção imediata.

Há uma clara diferença entre os Estados Unidos e vários países europeus no caminho a seguir. Os americanos têm um receio tão grande do câncer que 80% exigem tratamentos imediatos e radicais.

Já na Europa a maioria opta por acompanhar a doença e só tratar se adoecerem claramente. Muitos pacientes vivem muito e morrem de outras causas sem qualquer tratamento para o câncer. Dois medicamentos, Avodart e Proscar, ajudam a impedir o câncer – os que seguem esse tratamento têm perto de 20% de probabilidade a menos de desenvolvê-lo.

Em que essa pesquisa difere das anteriores? Neil Fleshner da University Health Network and Princess Margaret Hospital em Toronto diz que o Avodart dificulta o progresso da doença. A pesquisa estudou trezentos cancerosos de baixo risco, confirmados por uma biopsia. Receberam Avodart ou placebo diariamente durante um ano e meio ou três anos. O câncer piorou em 38% dos pacientes tomando Avodart e em 49% dos que tomaram o placebo. Foram feitas novas biópsias que em 36% dos pacientes que tomaram Avodart não encontraram nenhum câncer (o que não quer dizer que não estivesse lá) e em 23% dos que tomaram um placebo.

Avodart e Proscar têm efeitos colaterais. A pílula de Avodart custa perto de quatro dólares e a genérica de Proscar perto de dois.


 

GLÁUCIO SOARES


 

Outro que resistiu mais de vinte anos ao câncer da próstata


Eugene Goldwasser era um bioquímico da Universidade de Chicago que nos interessa por duas razões. A primeira é que seu grupo de pesquisas isolou uma proteína que deu início à biotecnologia e à indústria biotecnológica; a segunda é que ele enfrentou um câncer da próstata por mais de duas décadas.

O câncer metastizou para os rins, que pararam de funcionar. Viu-se diante de uma escolha: fazer diálise e um regime severíssimo, ou se entregar. Decidiu se entregar e foi para um lugar onde as pessoas terminam seus dias com o mínimo de dor e desconforto. O nome desses estabelecimentos, em Inglês, pode levar a erro – hospice – nada tem a ver com hospício. Faleceu depois de algum tempo, aos 88 anos.

A diálise foi um dos subprodutos da criação de Goldwasser e seu time. Durante a Guerra Fria, trabalhou na cura das doenças associadas à exposição à radiação. Encontrou e purificou a EPO, um hormônio produzido pelos rins, EPO (erythropoietin). Hoje, o EPO, modificada pela Engenharia Genética, é usado para curar anemia nas diálises e em pacientes de câncer.

A Universidade de Chicago bobeou e nunca patenteou a descoberta de Goldwasser. A indústria bioquímica faturou alto em cima dela.

O câncer da próstata também mata os ricos e famosos


O câncer da próstata pode matar e nem os ricos e famosos estão imunes. Há pouco noticiei que Dennis Hopper, conhecido ator, estava morrendo de câncer e, infelizmente, numa batalha judicial com a ex-mulher. Ele acaba de morrer em casa, na Califórnia.

Hopper estrelou em muitos, muitos filmes. Alguns dos mais conhecidos foram Easy Rider e Rebelde sem Causa (em 1955), que celebrizou James Dean.

Hopper não se entregou fácil. Lutou durante muitos, muitos anos.

Informação para um paciente com câncer avançado


Para quem já esgotou os benefícios da terapia hormonal e da químio há dois medicamentos recentes que ampliam a sobrevivência: Provenge (sipuleucel-T), fabricado pela Dendreon e acetato de abiraterona, agora nas mãos da Johnson. Provenge aumentou a sobrevivência aos três anos em 40% – 32% vs. 24% do grupo placebo, o que dá uma diferença de 4,1 meses. Não é muito mas, levando em consideração nossa idade e o estágio da doença tudo é lucro. A Dendreon, se bem me lembro, está fazendo testes abertos a pessoas com esse câncer em estágios diferentes. Convém dar uma olhada no site.

http://www.dendreon.com/

Para tal um conhecimento mínimo de busca na internet e um conhecimento de leitura em Inglês são indispensáveis. Se não souber, busque quem saiba. Perca a vergonha – afinal é o aumento da sua sobrevivência que está em jogo.

Quem chega nos estágios avançados e não tem sintomas, particularmente dores, tem sorte dentro do azar. A maioria tem metástase nos ossos, que é muito dolorosa.

O acetato de abiraterona já pode ser receitado em alguns lugares da Europa. Também é questão de buscar. O ganho na sobrevivência é maior, embora esteja longe do oba-oba que a mídia lhe atribuiu.

Nenhum dos dois é “cura”. Estamos falando de aumentar a sobrevivência e de atingir o objetivo que é não morrer por causa desta besta, mas de outra causa – morrer com o câncer da próstata, mas não por causa dele.