O destino dos pacientes idosos

 Um relato publicado recentemente em PSA Rising ilustra o percurso seguido por muitos idosos. É o de um paciente diagnosticado quinze anos antes e tratado com implantes radioativos que foi vitimado por outra doença, também característica de idades avançadas, que é a que mais impacto tem sobre a qualidade de vida do paciente.

Diz a senhora:

“há 15 anos, meu marido, Frank, foi diagnosticado e subsequentemente tratado com implantes de iodo radiotivo (braquiterapia). Aos 90 ele não faz mais testes de PSA. Infelizmente, ele foi diagnosticado com Altzheimer’s há sete anos e agora vive em uma residência especial, com assistência médica, perto de nossa casa. Eu o visito todos os dias e ele parece feliz.”

(minha tradução, não literal)

O caso de Frank exemplifica o que acontece com muitos pacientes de câncer da próstata: sobrevivem muitos anos e, se idosos, acabam tendo outras doenças e não morrem do câncer. A maioria dos pacientes diagnosticados com câncer da próstata, mesmo aqueles nos quais o PSA “volta”, morre de outra causa.

GLÁUCIO SOARES           IESP/UERJ

Mais três meses de vida com o radium-223

Quando o câncer da próstata está avançado, as opções para tratamento vão ficando reduzidas. Porém, esse é o grupo mais estudado e, em tempos recentes, o que tem recebido melhores notícias, com tratamentos que aumentam a esperança de vida, seja 3-4 meses aqui, 2-3 anos acolá.
Um desses tratamentos é radioativo (radiação alfa) usando radium-223. Os dados mostram que ele destrói lugares onde o câncer vicejava. Embora falemos de pacientes idosos e com cânceres muito avançados, há um aumento de três meses na esperança de vida. Valerie Lewington, do King’s College, apresentou dados de um clinical trialFase III (o mais completo e exigente) com 922 pacientes, 307 dos quais receberam o tratamento com radium-223.



No grupo controle, a sobrevivência média foi de 11,2 meses e no grupo que fez o tratamento, foi de 14 meses. Parece pouco, mas devemos levar em consideração que se trata de um grupo de idade média avançada e com um câncer muito avançado. É um aumento de 25%.
GLÁUCIO SOARES
IESP/UERJ

Bons resultados da Vitamina C

Algumas pesquisas condenaram a vitamina C à irrelevância no que concerne o câncer da próstata. Porém, uma nova pesquisa, ainda com camundongos, sugere que talvez a vitamina C ajude no tratamento.

Os camundongos receberam células cancerosas de tipo PA III, que eram resistentes ao tratamento (anti)hormonal. As cobaias receberam injeções intraperitoneais diárias durante um mês, com doses farmacológicas de vitamina C. Depois de quarenta dias os tumores dos camundongos foram pesados e medidos e as metástases foram contadas.

Quais os resultados?

  • Os tumores primários, originais, foram reduzidos e perderam peso e
  • Metástases sub-pleurais diminuíram em número e tamanho;
  • Metástases para os nódulos linfáticos foram reduzidas de sete para uma.

A conclusão de Pollard et AL. é que o a vitamina C em doses farmacológicas reduz (ou suprime) o crescimento dos tumores em cânceres que já não respondem ao tratamento (anti)hormonal.

Essa é uma vitamina que se encontra em vários vegetais, como nossa conhecida acerola e, em doses menores, em todas as frutas cítricas.

A pesquisa e seus resultados foi publicada em May-June 2010 issue of In Vivo, maio e junho de 2010.

Escrito por Gláucio Soares
com base em resumo de divulgação da pesquisa

Será que o Avodart pode retardar alguns cancers?


A disputa sobre o Avodart é antiga. Vários artigos sugeriam um benefício. Mas tinham um problema de origem: o autor de quase todos, Andreole, tem vínculos conhecidos e admitidos publicamente com a empresa que o fabrica, a GlaxoSmithKline.

Outros estudos apareceram, demonstrando que o medicamento baixava “artificialmente” o PSA. Dificultava a expressão do PSA, mas não tocava no câncer. Ora, o que se quer curar é o câncer e não o PSA…

Surgiram mais estudos recentes sugerindo que o Avodart, afinal de contas, tem um efeito positivo. O Avodart era usado para tratar próstatas artificialmente grandes e não o câncer. O que “surgiu” é que o Avodart desacelera o câncer. Uma implicação, dependendo da idade e estado geral de saúde do paciente, é tornar desnecessários procedimentos de diagnósticos e curativos que sejam caros e dolorosos. Os pacientes, com o câncer crescendo mais lentamente, podem “ficar de olho” na doença sem uma intervenção imediata.

Há uma clara diferença entre os Estados Unidos e vários países europeus no caminho a seguir. Os americanos têm um receio tão grande do câncer que 80% exigem tratamentos imediatos e radicais.

Já na Europa a maioria opta por acompanhar a doença e só tratar se adoecerem claramente. Muitos pacientes vivem muito e morrem de outras causas sem qualquer tratamento para o câncer. Dois medicamentos, Avodart e Proscar, ajudam a impedir o câncer – os que seguem esse tratamento têm perto de 20% de probabilidade a menos de desenvolvê-lo.

Em que essa pesquisa difere das anteriores? Neil Fleshner da University Health Network and Princess Margaret Hospital em Toronto diz que o Avodart dificulta o progresso da doença. A pesquisa estudou trezentos cancerosos de baixo risco, confirmados por uma biopsia. Receberam Avodart ou placebo diariamente durante um ano e meio ou três anos. O câncer piorou em 38% dos pacientes tomando Avodart e em 49% dos que tomaram o placebo. Foram feitas novas biópsias que em 36% dos pacientes que tomaram Avodart não encontraram nenhum câncer (o que não quer dizer que não estivesse lá) e em 23% dos que tomaram um placebo.

Avodart e Proscar têm efeitos colaterais. A pílula de Avodart custa perto de quatro dólares e a genérica de Proscar perto de dois.


 

GLÁUCIO SOARES


 

A VELOCIDADE DO PSA TALVEZ NÃO INDIQUE MUITO


Essa pesquisa abriu um janela de esperança para mim: há um ano, meu PSA começou a crescer rapidamente, isso depois de mais de dez anos de um crescimento moderado que começou cinco anos após a cirurgia. Há dois conceitos, duas fórmulas que medem o crescimento do PSA:

  • Velocidade – que é uma medida simples – quanto ele cresceu em um ano, usualmente medido em ng/ML e
  • PSADT – o tempo que ele leva para dobrar.

O tempo que meu PSA levou para dobrar variou ao longo desses anos, começando com perto de dez meses, chegou a mais de trinta meses (o que é bom) e andou vários anos perto de 15, 16 meses, nível que meu cirurgião definiu como “não é ruim, mas também não é muito bom”. Poucos meses depois dessa consulta verifiquei que o PSA estava dobrando em menos de três meses. Minhas leituras mostravam que quando o PSA crescia tão rápido, a esperança de vida era baixa. Poucos sobravam aos cinco anos e muitos morriam antes de três.

Fui a dois especialistas inteiramente diferentes: um que usa tudo e briga com todos, tem vinculações com a indústria de suplementos, foi chefe de um departamento de oncologia, cobra 450 dólares a meia hora e não aceita plano… A primeira consulta durou mais de duas horas. Saí com um caminhão de suplementos para tomar. O objetivo era amainar a crise para entrar no tratamento anti-hormonal. Aliás, a preparação incluir tudo aquilo que piora com esse tratamento, baseado no Lupron: fortalecer os ossos, baixar a pressão etc. etc.

O outro especialista não era médico: era um senhor hospital, votado ano trás ano como o melhor ou o segundo melhor no tratamento de câncer nos Estados Unidos, o Sloan Kettering Memorial Cancer Center. Fizeram tomografia computarizada (uma variante técnica nova) e a cintilografia óssea. Normalmente, nada aparece antes de que o PSA atinja 10 ng/MLou mais, mas essa combinação teoricamente poderia detectar os cânceres se estivessem crescendo rapidamente e o meu estava. O tratamento seria o mesmo recomendado pelo médico anterior “quinze pílulas preparatórias”, uma injeção de Lupron e outras quinze pílulas. A injeção seria dada de três em três meses, quatro em quatro meses, e surgia uma semestral. Mas a estratégia seria intermitente. Quando o PSA voltasse a subir a um nível que predeterminaríamos, nova injeção. A estratégia intermitente seria apenas marginalmente inferior à contínua e os efeitos colaterais iriam desaparecendo. Mas não deixou muitas esperanças: “um tratamento com benefícios moderados e com efeitos colaterais moderados”. Eu sabia que a mediana das respostas era de dezoito meses apenas. Depois disso o Lupron perdia eficácia.

Os exames não encontraram o câncer em lugar nenhum. No nosso segundo encontro, quatro meses depois, não quis fazer nova tomografia etc.: “a tomografia computarizada despeja no paciente a radiação equivalente a trezentos exames de raio-x e o tratamento é o mesmo.” Continuou sem receitar nada. Quatro meses depois voltei e ficou realmente intrigado: o PSADT tinha aumentado de menos de três para mais de dezoito meses, o que é ótimo – mesmo descontando a queda artificial de 50% provocada pelo Avodart (dutasteride) prescrito pelo primeiro médico. Os demais exames estavam dentro do normal, inclusive os fosfatais, mas feito os descontos, meu PSA andava lá por 13 e eu não tenho próstata. Foi meu filho, biólogo e pesquisador, que recomendou contra. Ele é muito frio e disse: pai, até o fim dessa doença você vai ter muitas consultas. Durante esse tempo não dá para fazer um teste de alto risco várias vezes – sete, oito. Espere enquanto puder.

Assim fiz.

Agora leio os resultados de uma pesquisa que reduzem a significação do PSA como indicador de um câncer agressivo, ainda que enfocado nas etapas iniciais (eu estou numa avançada). O artigo combate as biopsias freqüentes por caras, freqüentemente dolorosas, estimuladas pelos PSAs crescentes.

Nas etapas iniciais, pelo menos, o crescimento do PSA não ajuda muito a definir se o câncer (é) será agressivo ou não. Tomado isoladamente é um bom teste, mas se tomado juntamente com outros, não adiciona conhecimento. Andrew Vickers, do mesmo Memorial Sloan-Kettering Cancer Center em New York, onde eu me trato, concluiu que se conhecermos o primeiro PSA, o toque retal, a história da família, ser mais velho e ser negro, a velocidade do PSA não altera o resultado. Se isso se estender aos níveis mais altos, melhor para mim. O acompanhamento do PSA gera mais ansiedade do que conhecimento, particularmente se ele crescer rapidamente. A velocidade do PSA nesses níveis iniciais não é um bom indicador de se o câncer é agressivo ou não.

GLÁUCIO SOARES

Afinal, quanto tempo de vida você tem?

Uma pesquisa levantou a esperança de vida dos pacientes de câncer da próstata. Ela varia com o tratamento e com o tempo.

A prostatectomia (cirurgia) e a radiação são os dois tratamentos iniciais mais comuns. Raramente se opera o paciente quando há evidência de metástase: retirar a próstata não tem como curar um câncer que já espalhou, que já está em outros lugares. Mas não é fácil saber onde está o câncer, se já se metastizou ou não. Na dúvida, usam cirurgia. Muitas vezes combinam o cirurgia e a radiação.

O primeiro grande marcador negativo, de que a coisa não está bem, é a “volta do PSA”, quando o PSA reaparece no sangue. Isso significa que há células cancerosas vivas. O câncer não foi curado e, agora, é incurável. O que não quer dizer que o paciente morrerá dele: a maioria não morre deste câncer mesmo depois do fracasso bioquímico (a volta do PSA). Depende de quê? De várias coisas, entre as quais o tempo e o tipo de tratamento – isso entre as que sofreram a volta do PSA. As outras estão livres, curadas. Quando morrerem não será de câncer da próstata. Uma pesquisa com mais de 600 veteranos de guerra mostra quais as probabilidades, quais os riscos.

A volta do PSA – o temido fracasso bioquímico – ocorreu em 34% a 48% dos pacientes, dependendo do tempo e do tratamento. Uma percentagem maior dos submetidos a radiação (onde havia mais casos avançados) teve o desprazer de lidar com a volta do PSA no sangue.

A tabela abaixo mostra os vários riscos por tempo e por tipo de tratamento:

Fracasso bioquímico e morte devida ao câncer da próstata aos 5-, 10- e 15- anos depois do tratamento inicial.

Tempo
% acumulada em que o PSA voltou depois da cirurgia
Mortalidade por câncer depois da volta do PSA entre os que fizeram cirurgia
% acumulada em que o PSA voltou depois da radiação
Mortalidade por câncer depois da volta do PSA entre os que fizeram radiação
5 anos
34%
3%
35%
11%
10 anos
37%
11%
46%
20%
15anos
37%
21%
48%
42%

Dados tirados dos Archives of Internal Medicine.

O que esses dados nos dizem? Que 5 anos depois da cirurgia, 34% dos operados sofrem o fracasso bioquímico, a volta do PSA nos exames de sangue. Cinco anos depois (dez depois da cirurgia) a percentagem sobe um pouco, para 37%. E parece que não aumenta a partir daí. Olhando a terceira coluna vemos os dados relativos aos que fizeram radiação. São mais altos, ainda que não muito mais altos. Aos cinco anos, 35% (praticamente o mesmo que a cirurgia) sofrem o fracasso bioquímico; dez anos depois da radiação, a percentagem aumenta significativamente, para 46% e quinze anos depois parece estabilizar, com 48%, quase a metade.

Não obstante, nem todos os que enfrentam o fracasso bioquímico morrem do câncer. Em verdade, a maioria morre de outra coisa. Comparem a segunda e a quarta colunas. Cinco anos depois da volta do PSA, somente 3% dos que fizeram cirurgia morreram do câncer. Mais cinco anos e a percentagem aumenta para 11%. Mais cinco anos e a percentagem dobra para 21%. Ou seja, quinze anos depois da volta do PSA entre os que fizeram cirurgia, um em cada cinco morreu do câncer.

Tudo indica que essa percentagem continua crescendo depois dos 15 anos, mas as mortes por outras causas também passam a crescer mais rapidamente em função da idade. Lembrem-se de que falamos de 15 anos depois da volta do PSA, do fracasso bioquímico, e não da cirurgia. A maioria está com 80 ou mais.

No grupo que fez radiação os dados são piores – em parte porque muitos fizeram radiação porque havia evidência de metástase e de que a cirurgia não poderia curá-los. As percentagens dos que morrem da doença – depois da volta do PSA – parece dobrar cada cinco anos: 11%, 20% e 42%.

As pesquisas têm se concentrado nesse grupo mais doente, com doença mais avançada. E terapia hormonal, usualmente seguida de quimio e, mais recentemente, da caríssima vacina Provenge e, em final de desenvolvimento, da abiraterona, vão aumentando a sobrevivência específica do câncer da próstata (mas não de outras mortes): uns estimam em 14 a 18 meses o efeito da terapia hormonal (mais há casos de muitos anos em que o efeito funciona – cinco e mais anos), quatro meses de vida na mediana agregados pela quimio; outros quatro pela Provenge e um tempo mais variável, que pode chegar a mais de oito meses com a abiraterona. E haja dinheiro…

Poucos morrem aos cinco anos. A barra começa a ficar mais pesada aos dez e, principalmente, aos quinze e mais anos, depois da volta do PSA.

Fonte: Uchio EM, Aslan M, Wells CK, Calderone J, John Concato. “Impact of Biochemical Recurrence in Prostate Cancer Among US Veterans.” Archives of Internal Medicine. 2010;170:1390-1395.

Resumo por Gláucio Soares (IESP-UERJ) de fontes publicadas na internet.

Se quiser saber mais sobre suicídios e a prevenção de suicídios, visite os seguintes blogs:

Mais setenta e dois dias de vida…

Há um novo tratamento quimioterápico no nosso mundo, dos pacientes de câncer da próstata. Se chama cabazitaxel, e está sendo vendido com o nome de Jevtana. Talvez vire tratamento padrão, talvez não.

Por que viraria? Porque aumenta os benefícios em relação aos outros produtos existentes, usados quando o docetaxel já não produz resultados.

Por que não viraria? Porque os efeitos colaterais são sérios.

O principal benefício é um aumento de dois meses de vida em homens com um câncer muito, muito avançado. Este benefício foi constatado num experimento chamado TROPIC. Dados os resultados, o tratamento foi logo aprovado.

Como sempre, os pacientes foram divididos em grupos. Um tomava o tratamento padrão (quando docetaxel não funciona mais), que é prednisona junto com mitoxantrona. O outro retira a mitoxandrona e coloca o cabazitaxel.

O risco de morte do segundo grupo, com cabazitaxel, foi 30% menor. Todos os membros, dos dois grupos, já não respondiam ao tratamento hormonal nem ao docetaxel.

O arsenal contra cânceres muito avançados ainda inclui Provenge e abiraterona. Cabazitaxel mostra benefícios quando a doença continua a avançar depois da químio. Nesse nível, as vantagens são pequenas. O tratamento com prednisona é oral, mas o cabazitaxel requer uma injeção na veia de três em três semanas.

De quanta sobrevivência estamos falando nesse grupo extremo? Na mediana, 15,1 meses no grupo com cabazitaxel e 12,7 no grupo controle. Setenta e dois dias a mais de vida. Não pode ser explicado aleatoriamente, pois o risco relativo é 0,70 e a sua probabilidade menor do que 0,0001.

Durante quanto tempo esses dois tratamentos param o avanço do câncer?

Pouco: 8,8 meses no grupo cabazitaxel e 5,4 no grupo controle.

Outro critério, a baixa significativa do PSA, não dá para entusiasmar: 39% no grupo cabazitaxel e 18% no controle (mitoxantrona, P = .0002).

Ganhos modestos num grupo que, usualmente, está no limite, mas ganhos não obstante.

O problema reside nos efeitos colaterais: diarréia muito séria, 6% e 1%, respectivamente, e neutropenia nível 3 ou maior em 82% dos pacientes do grupo experimental (cabazitaxel) e 58% no controle. Altíssimo. E 5% dos pacientes morrem dos efeitos colaterais. Evidentemente esses efeitos terão que ser controlados e cuidados antes, durante e depois do tratamento.

Ainda não é a cura com que sonhamos. Longe disso, mas são mais alguns (poucos) meses de vida que são adicionados depois de uma série de outras adições. Houve uma razoável extensão da vida com esses tratamentos que foram desenvolvidos na última década, mas continuamos longe de uma cura. Não obstante, devemos agradecer a Deus essa extensão, particularmente porque estamos falando de uma população cuja maioria é idosa e tem outros problemas de saúde. É um erro pensar que se a gente não morre do câncer da próstata vai viver para sempre…

Escrito por Gláucio Soares com base em resumos.

Um tratamento eficiente no futuro

Cresceu a probabilidade de desenvolver terapias “orientadas” e personalizadas contra o câncer da próstata.

Moléculas RNA pequenas podem ser treinadas para matar células cancerosas nos homens e nas mulheres. Elas matariam “seletivamente”, deixando as células saudáveis intactas. As terapias atuais matam com graus variáveis de indiscriminação. As baseadas em radiação bombardeiam tudo o que há numa área definida; a quimioterapia se baseia no principio de que as células cancerosas morrem antes, na média, mas fazem um estrago grande nas células saudáveis.

É um desenvolvimento importante para a humanidade, muito importante. Foram registradas 7,6 milhões de mortes por câncer no mundo em 2007. O potencial de salvar vidas de uma descoberta desse tipo é imenso.

A químio mata muitas células cancerosas, mas mata também muitas células sãs, causando anemia, náusea, fadiga seria, perda do cabelo, podendo danificar muitos órgãos.

As terapias orientadas se concentraram em reduzir a velocidade da divisão de células, que também existe nas células saudáveis. Outra tentativa, chamada de interferência RNA, enfocou em identificar e separar o oncogene, mas não matava o câncer.

E a busca continuou: o mundo precisa de tratamentos seletivos (que só matem o câncer) e eficientes (que matem todas as células cancerosas). Estamos longe disso.

Os oncogenes se caracterizam por uma alta quantidade de novas inserções e também deletam muito. Essas características os torna mais fáceis de eliminar. Isso porque seqüências de mutações que são típicas de alguns cânceres, como o dos ossos, do cérebro e da próstata. As pequenas RNAs identificam e matam as células cancerosas.

Como?

Elas se grudam nas mRNAs das marcadoras dos cânceres produzindo uma reação do nosso sistema imune anti-virus que provoca a apoptose.

Os resultados prometem: nos três tipos de câncer que foram testados, houve uma drástica redução no número de células que continham as mutações-alvo. A redução foi de vinte a cem vezes. Ou seja, a diminuição nas células cancerosas foi muito grande.

Qual o status atual deste tratamento? O que vem a seguir? Primeiro, vários experimentos com animais. Leva alguns anos. Depois alguns experimentos sucessivos com alguns pacientes avançados, usualmente para confirmar que funciona, definir qual a dose ótima e quais os efeitos colaterais. Pertencem à classe chamada de Fase II. Depois, finalmente, experimentos com um grande número de pacientes, com grupo controle, sem que ninguém saiba em que grupo está. Se tudo isso der certo, teremos um novo tratamento, e um número menor de pacientes desesperados cometerão suicídio.

Veja S. Venkataraman et al., “Selective cell death mediated by small conditional RNAs,” PNAS, doi: 10.1073/pnas.1006377107 


Para saber mais, leia:

A targeted cancer therapy? – The Scientist – Magazine of the Life Scienceshttp://www.the-scientist.com/blog/display/57674/#ixzz0zA70CMYu

Se quiser saber mais sobre o câncer da próstata, visite os seguintes blogs:

ou
Se puder ler em Inglês, veja

Vantagens da terapia horrmonal em conjunção com a radioterapia

Recebi da Dra. Sonia Ferraz de Andrade

Autor: Nick Mulcahy
Publicado em 06/08/2010

Em homens diagnosticados com câncer de próstata localmente avançados e de alto risco, a terapia de radiação deve ser adicionada à terapia de deprivação andrógena continua (ADT) como parte do tratamento padrão.
A recomendação vem de um estudo cooperativo envolvendo 1205 homens, segundo o autor Padraig Warde, da Universidade de Toronto em Ontario.
Em 7 anos, 74% dos 603 homens que receberam ADT mais radiação externa estão ainda vivos, comparados com 66% dos 602 que receberam somente ADT.
A terapia de combinação também reduziu o risco de morte para câncer de próstata em 43%, comparado com ADT somente.
Os resultados devem guiar a prática clínica e desafiar o dogma de que o ADT sozinho é o tratamento de escolha para o câncer de próstata localmente avançado, segundo o Dr. Warde apresentou na Conferência Anual de 2010 da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.
“Esse estudo cimenta firmemente o uso da radiação como parte do tratamento do câncer de próstata de alto risco”, segundo Jennifer Obel, da Univerdade Northshore em Evanston, Illinois. A Dra. Obel moderou a Conferência.
Os novos achados estão de acordo com o que muitos médicos acreditam e praticam segundo o Dr. Warde.
Ao redor de 15% a 25% de novas neoplasias diagnosticadas são localmente avançadas e por isso, de alto risco, segundo ele.
“No passado, muitos médicos consideravam esses pacientes incuráveis e que eles deveriam ser tratados somente com a terapia de deprivação androgênica”.
“Acima de 45% desses pacientes de alto risco foram tratados somente com a terapia hormonal, de acordo com o Dr. Warde. ”Nós achamos que uma parte importante desses pacientes poderia se beneficiar da terapia por radiação.”
Ele também citou uma pesquisa entre urologistas e radioncologistas canadenses. A pesquisa, realizada nos anos 90, indicou que mais de 60% deles acreditavam que a terapia de radiação não estava estabelecida para estes pacientes.
Contudo, um número de especialistas de câncer de próstata disse que a terapia de radiação mais a ADT pode ser padronizada para alguns casos.
“E é o que está sendo feito,” segundo Oliver Sartor, do Centro de Câncer Tulane em New Orleans, Louisiana.
“Eu treinei de 1999 a 2001 e a terapia de combinação era o que era feito então,” declarou Timothy Gilligan, da Cleveland Clinic em Ohio

Ereção, câncer da próstata e risco de morte

Ter problemas de ereção antes da prostatectomia afeta o risco de morte depois da prostatectomia?

Afeta, mas não como talvez o leitor creia. Pesquisa feita na Johns Hopkins demonstra isso.

Como foi feita a pesquisa?

Entre 1983 e 2000 o mesmo cirurgião realizou 2.511 cirurgias. Um grupo desses pacientes tinha problemas de ereção (231 pacientes) e outro grupo não tinha (2.280 pacientes). Na mediana foram acompanhados durante 13 anos; nesse período houve 449 mortes, das quais 140 por câncer da próstata. Nesse grupo total de pacientes cujo câncer era suficientemente sério para operar, apenas 31% dos que morreram, morreram do câncer.

Os pacientes que tinham problemas de ereção antes da prostatectomia tiveram uma sobrevivência menor; porém a mortalidade por câncer da próstata foi semelhante nos dois grupos. A mortalidade por problemas cardiovasculares foi muito maior e estatisticamente significativa (P < 0,001), e a mortalidade geral também foi maior e estatisticamente significativa (P < 0,001). A razão de risco era de 1,71.

Por quê?

Em parte porque muitas disfunções eréteis estão intimamente relacionadas com problemas circulatórios e, indo um passo mais adiante, em parte porque alguns tratamentos para o câncer aumentam o risco de problemas cardiovasculares.


 

Na primeira análise os pacientes com problemas de ereção tinham risco mais alto de morrer do câncer, mas quando os indicadores da gravidade do câncer como o PSA, o Escore Gleason, a idade, a quantidade de gordura no corpo etc. foram levadas em consideração, a relação desapareceu.

Os urólogos e oncólogos devem considerar os problemas de ereção como um alerta da existência de problemas cardiovasculares que podem ser agravados pelo tratamento anti-câncer.