Boas noticias: novo medicamento aumenta o tempo livre de metástases

A FDA, que exerce algumas funções semelhantes às da ANVISA, aprovou o uso de novo medicamento para combater o câncer da próstata.

Hoje em dia, com os avanços na personalização do tratamento desse câncer, os medicamentos são aprovados para um tipo de paciente e para um ou mais estágios da doença.

A darolutamida foi aprovada para um tipo de paciente: os que não respondem mais ao tratamento hormonal, mas ainda não apresentam metástases visíveis nos exames de imagem.

Com base em que esse medicamento foi aprovado?

Com base nos resultados de uma pesquisa avançada, Fase 3, chamada ARAMIS. Essa pesquisa selecionou, aleatoriamente, os pacientes em dois grupos. Um recebeu a darolutamida mais o tratamento hormonal e outro recebeu um placebo mais o mesmo tratamento hormonal.

O critério foi o tempo até que aparecesse metástase visível nos exames de imagem. É chamado de tempo de sobrevivência até a metástase, (MFS).

As diferenças entre os dois grupos foi muito grande.

O grupo com a darolutamida levou, na mediana, 40,4 meses até o aparecimento de metástase, quase três anos e meio, ao passo que o grupo sem a darolutamida levou 18,4 meses.

Lembro que a mediana é o tempo que divide os pacientes em duas metades. Isso significa que metade dos pacientes do grupo darolutamida continuava sem metástase após 40,4 meses.

E o tempo até a morte?

Para medir esse tempo, temos que esperar até que a metade dos pacientes morra…

Como o tempo até a metástase se correlaciona, em outros estudos, com o tempo até a morte, ou seja, quanto mais demora um a chegar, mas demora o outro a chegar, os analistas hipotetizam um ganho substancial no tempo de vida, mas ainda não é possível saber de quanto.

Boas notícias…

Ótimas notícias…

GLÁUCIO SOARES

Índice automatizado para prever a sobrevivência de cancerosos

Há quase consenso de que avaliar corretamente o que acontecerá com o paciente é algo positivo. No câncer da próstata, o estado dos ossos é importante para um prognóstico correto. Atualmente, é feito “a olho” pela maioria dos médicos. Foi desenvolvido um Index que ajuda a prever a agressividade do câncer, mede o efeito dos tratamentos, prevê o tempo de sobrevivência etc.

Só há programas que estão sendo desenvolvidos para fazer isso automaticamente. Um deles se chama “The automated Bone Scan Index” (aBSI).

Claro, o aBSI, como qualquer índice, tem que ser validado empiricamente. É preciso mostrar que funciona, que ajuda no prognóstico.

Andrew J. Armstrong e associados fizeram isso. Recrutaram 1245 pacientes com cânceres avançados, que não respondiam mais à terapia hormonal (mCRPC), que tinham metástases, e não tinham feito químio. Desses, 721 tinham informações que permitiram o uso do aBSI.

Queriam saber se o aBSI era capaz de prever a sobrevivência daqueles pacientes. Dividiram os pacientes em quatro grupos com aproximadamente o mesmo número de pacientes, de acordo com o aBSI, do melhor para o pior (quanto mais baixo o aBSI, melhor) e viram qual a mediana da sobrevivência de cada grupo. Esses grupos estatísticos são chamados de quartís. A sobrevivência mediana, no melhor quartil, foi de 34,7 meses – quase três anos; nos demais quartís foi de 27,3, 21,7 e 13,3 meses.

É, portanto, um instrumento válido. Evidentemente, poderá ser melhorado.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

Aproximando o futuro

Você, ou um ser querido, enfrenta um câncer da próstata. O avanço do câncer preocupa, seja porque está avançando, seja porque pode recomeçar a avançar. Você olha com esperança para as pesquisas, os novos medicamentos que estão sendo testados, novas terapias ETC. Você sabe que a sobrevivência aumentou muito nos últimos dez anos, em parte devido a novos tratamentos.

Porém, você também sabe que muitas pesquisas acabam não produzindo novos medicamentos e que muitas das que alavancam tratamentos mais avançados demoram muito tempo até estarem disponíveis.

Pesquisadores consultados afirmaram que, na atualidade, a duração prevista das pesquisas é de 11,5 a 16,2 anos, calculando amostras de cerca de mil pacientes, com um tempo de recrutamento de cerca de cinco anos. São pesquisas que não beneficiarão muitos dos atuais pacientes, que morrerão antes e não somente de câncer. Nas idades avançadas da grande maioria dos pacientes, muitos morrem – a maioria de outras causas – em quinze anos.

Se você tem esse tipo de preocupação, você vai gostar da notícia abaixo.

Os pesquisadores de um grupo de trabalho chamado

ICECaP acompanharam pacientes durante dez anos – na mediana – e concluíram que há uma correlação muito alta entre a sobrevivência em geral (, chamada de OS, overall survival, incluindo todas as causas de morte) e o tempo que leva até a metástase, em pacientes com canceres localizados.

Em parte, isso é óbvio e esperado. É a metástase que mata. Quanto mais tempo até a metástase, maior a sobrevivência…. Porém, o tempo que leva do aparecimento da primeira metástase até a morte não é sempre o mesmo. Longe disso.

Exemplo: se a metástase for para uma víscera, particularmente para o fígado, a sobrevivência mediana é menor do que a metástase mais comum, que é para os ossos.

Talvez muitas dessas diferenças já estejam embutidas no tempo até o aparecimento da primeira metástase.

A relevância para o desenvolvimento de novos tratamentos e novos medicamentos é que não será obrigatório esperar até que muitos pacientes morram para apresentar conclusões preliminares das pesquisas e submeter esses possíveis tratamentos e medicamentos à apreciação dos órgãos reguladores, que devem aprovar o seu uso para que possam ser fabricados e vendidos.

Terão que esperar menos, em alguns casos, vários anos menos.

Qual o resultado animador? A correlação de Kendall entre a OS, sobrevivência geral, e o tempo livre de metástases (metastasis-free survival – MFS) é altíssima, 0,91. O chamado coeficiente de determinação, R2, é 0,83. A regressão foi entre a sobrevivência geral aos oito anos e a ausência de metástase aos cinco anos.

Confirmada essa associação para vários tipos de pacientes, os medicamentos chegarão às prateleiras três anos antes! É imaginável que esse ganho seja aumentado se essa associação se revelar tão íntima entre medidas com um intervalo maior entre elas.

Tratamos de estender vidas humanas. Se os medicamentos mais recentes estivessem disponíveis três anos mais cedo, dezenas de milhões de anos de vida poderiam ter sido salvos em todo o planeta.

Vale a pena ler mais:

Xie W, Regan MM, Buyse M, et al. Metastasis-free survival is a strong surrogate of overall survival in localized prostate cancer [published online August 10, 2017]. J Clin Oncol. doi:10.1200/JCO.2017.73.9987.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ

CONVERSA TRISTE

 

Conversei, pelo telefone, com um colega pesquisador, biólogo, amizade de muitas décadas. Alguém que fez muito pela educação no Brasil.
Tem uma variante mais agressiva do mesmo câncer que eu enfrento. Chegou ao limite dos tratamentos disponíveis. Nenhum funciona mais. Tem muitas metástases, tanto em tecidos suaves quanto ósseos, que são muito dolorosas. Com a coluna vertebral e o quadril muito comprometidos não consegue sentar. Por que é importante sentar? Porque quer muito terminar seu último livro. Ele quer viver uns meses mais também para levar um pouco mais adiante uns projetos sociais, individualizados, mas sociais, algumas famílias pobres que ele ajuda, cujos filhos ele educa. Sugeri que poderia escrever falando, que a Google tem um bom sistema de transformar som em texto, que aprende fácil. Permitiria ditar o livro. Assim, poderia trabalhar deitado. A sugestão, que eu considero para meu próprio uso, não emplacou.
A proximidade da morte traz uma decisão difícil, a de aceitar e abandonar a vida e seus projetos. É duro, duríssimo. Me lembrei de um livro escrito pelo Cardeal Bernadin, ele próprio vítima de um fulminante câncer do pâncreas, que o levou em um ano. Tinha um projeto semelhante, escrever um livro sobre essa experiência. Escreveu. Se chama The Gift of Peace e seu capitulo mais interessante, e que mais me tocou, se chama Letting Go, onde fala da necessidade do abandono, da entrega. Abandono de quê? Dos projetos (Bernardin tinha muitos projetos), dos sonhos terrestres, da vida. É o momento em que o moribundo aceita a morte, aceita que a vida não termina “bonitinha”, que não tem fecho dourado. Simplesmente acaba. A entrega, para os que acreditam, é a entrega total a Deus, abdicando de toda e qualquer vontade de controlar a vida que… já não pode controlar. Entregando a vida, a transição para a morte é muito mais fácil. Se agarrando a ela, é muito mais difícil.
Não obstante, milagres acontecem. Você pode ajudar a que um aconteça. Reze, ore, em conformidade com o que acredita, direcione energias positivas, mobilize amigos e quem sabe? Quem sabe, meu amigo terminará seu livro?

 

Gláucio Soares  IESP-UERJ

Novos dados europeus sobre o Degarelix

Há dados novos sobre o uso do Degarelix no tratamento do câncer da próstata. Foi feito na Alemanha. Os dados se referem a mais de mil pacientes tratados em 138 clinicas diferentes na Alemanha entre 2009 e 2013.

Foram divididos em dois grupos, os que já haviam sido tratados com terapia hormonal e os que ainda não haviam sido tratados com terapia hormonal.

O feito do Degarelix sobre o PSA foi claro: em um ano, 65% conseguiram uma redução a ≤4 ng/ml (igual ou menor do que 4), percentagem que aumentou para 71% com 24 meses de tratamento. Os resultados de pacientes com metástases foram bons, ainda que mais baixos: 41% reduziram a 4 ou menos em um ano e 63% em dois anos. Em pacientes cujo PSA tinha atingido 20 ou mais os resultados também foram bons, ainda que piores: 41% e 44%, respectivamente. Essa categoria (igual ou maior do que 20 é muito ampla, pois havia pacientes com PSA muito alto, inclusive um com mais de seis mil!

Quem já tinha feito outro tipo de tratamento hormonal e passou para o Degarelix teve resultados piores do que os que começaram com ele, como esperado: afinal, estavam há mais tempo com um tratamento de câncer avançado e possivelmente muitos trocaram porque os resultados já não eram satisfatórios.

O tempo de acompanhamento foi curto, de tal maneira que a mediana de sobrevivência não havia sido ultrapassada: mais da metade estava viva.

Como foi a resposta dos tumores ao Degarelix? Depois de um ano, um em cinco tinha uma remissão completa, total; outro tinha uma remissão parcial; 28% tinham estabilizado e, em pouco mais de um em dez, o tumor avançou. Com dois anos de tratamento, os resultados também foram semelhantes.

O tempo de acompanhamento foi relativamente curto, não sendo possível saber quais os efeitos do tratamento a longo prazo, digamos, dez anos ou mais.

Ver Götz Geiges, Thomas Harms, Gerald Rodemer, Ralf Eckert, Frank König, Rolf Eichenauer, Jörg Schroder, em BMC urology. 2015 Dec 16 (eletrônica). Essa revista é aberta e você pode ler seus artigos sem pagar.

GLÁUCIO SOARES IESP/UERJ

Uma oração por Irene

 

Irene, amiga desde 1962, faleceu vítima de dois canceres (diferentes) no pulmão.  Aos que acreditam, peço uma oração; aos que não acreditam, um pensamento positivo.

Obrigado

 

Gláucio Soares

DIA DOS SOBREVIVENTES DE CANCERES

Domingo, dia 1o, foi celebrado o Dia dos Sobreviventes de Câncer. Junho, em diferentes países, é um mês dedicado a nós.

Quem é um sobrevivente do câncer? É quem foi diagnosticado com câncer e está vivo, não importa se o diagnóstico foi feito ontem ou há trinta anos. Se você é considerado curado, e, ao contrário, se a barra está pesada, você é um sobrevivente. Somos sobreviventes do diagnóstico até a hora da morte, seja por que causa for.

O que há para celebrar? – perguntarão muitos.

Simples: o diagnóstico de um número cada vez maior de canceres deixou de ser uma sentença de morte. Tome o câncer da próstata: em meados da década de 90, metade dos diagnosticados emplacavam dez anos; se espera que 97% dos diagnosticados agora estejam vivos, ainda que não necessariamente curados, dez anos depois.

Isso nos Estados Unidos. Aqui, talvez ainda estejamos lutando para chegar ao nível que aquele país atingiu há décadas. O aumento da sobrevivência não foi uniforme: o prognóstico em alguns canceres melhorou muito, mas em outros o avanço foi mínimo.

Há muito que celebrar! Não obstante, ainda temos muito trabalho pela frente.

 

GLÁUCIO SOARES            IESP-UERJ

Avanços na sobrevivência de cânceres

As notícias vindas do Reino Unido são boas, mas não ótimas. Houve um avanço considerável na sobrevivência (dez anos depois do diagnóstico) dos adultos em alguns cânceres nos quarenta anos de 1971-2 a 2010-11, melhorias em outros e quase estagnação em alguns nos quais a ciência ainda não encontrou o caminho, particularmente os do pulmão e do pâncreas. Houve pouco progresso no tratamento de cânceres do esôfago, do estomago e do cérebro. Do lado bom da escala, a sobrevivência do câncer dos testículos está próxima de cem por cento (98%), um avanço bem-vindo desde os 69% de quatro décadas atrás. O temível melanoma está sendo domado: a sobrevivência aos dez anos deu um salto, de 46% para 89%.

No conjunto, metade dos cancerosos sobrevive dez anos ou mais. Dez anos depois do diagnóstico, metade está viva. É um avanço: na média, entre os que foram diagnosticados no início da década de 70, somente um quarto estava viva depois. Um câncer que obteve um aumento substancial na sobrevivência foi o de mama, graças em parte considerável à mobilização e à politização das mulheres: de 40% para 78%. Aliás, as mulheres se beneficiaram mais das melhorias do que os homens: das diagnosticadas (de todos os cânceres) recentemente, 54% devem sobreviver, pelo menos, dez anos, bem mais do que os 46% dos homens. Parte da diferença se explica pelo fato de que os homens continuam a fumar e beber mais do que as mulheres. Em 1974, 51% dos homens adultos britânicos fumavam, dez por cento a mais do que as mulheres adultas. Em 2012, essas percentagens eram de 22 e 19, respectivamente (Fonte: http://www.ash.org.uk). Não tenho dúvidas de que a redução no fumo contribuiu muito para a redução da mortalidade por câncer. Infelizmente, o quadro do consumo de bebidas alcoólicas não é positivo: aumentou de 1974 a 2013, a despeito de uma redução a partir de 2004. Tomando a Inglaterra em separado, pesquisa feita em 2011 revelou que 39% dos homens e 28% das mulheres tinham bebido mais do que o nível máximo recomendado. Esse nível é mais alto no caso dos homens, o que significa que as diferenças absolutas no consumo de álcool entre os sexos é ainda maior. Há vários cânceres com relações com o consumo excessivo de álcool.

E o câncer da próstata? Os dados mostram que 94% estavam vivos um ano depois do diagnóstico, 85% cinco anos depois e 84% dez anos depois. Avançou muito em relação a outros cânceres: entre os diagnosticados no início da década de setenta, havia seis cânceres com melhor sobrevivência (entre os individualizados no gráfico abaixo), mas a projeção a respeito dos diagnosticados quarenta anos depois é que somente os diagnosticados com câncer testicular e com melanoma terão sobrevivência maior aos dez anos.
Esses são os dados britânicos. A sobrevivência é mais alta nos Estados Unidos e deve
[i] ser muito mais baixa no Brasil. Nossa saúde pública deixa muitíssimo a desejar.

O objetivo de todo departamento da ciência médica é, claro, a cura. Até agora, temos tido avanços graduais e cumulativos, como é o caso do câncer da próstata, ou grandes avanços devido a inovações no tratamento.

 

 

 

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Ver: Adult 10-year net survival, England & Wales Credit: Cancer Research UK


[i] Os dados brasileiros são pouco confiáveis.