Sono, melatonina e risco de câncer da próstata
Nosso corpo segue ritmos. Há ritmos diários, com ciclos de 24 horas, há semanais, há mensais, há de 28 em 28 dias. Há ciclos anuais. Há outros ajustados às estações e muitos mais. Rupturas nesses ritmos podem ser prejudiciais. Perturbações no sono podem ter consequências que vão além do próprio sono, aumentando o risco de disfunções variadas.
A nossa glândula pineal secreta melatonina num ritmo circadiano de 24 horas. Se não houver disfunções, ela atinge o pico à noite. Porém, essa produção é sensível a alguns fatores, inclusive a luz. Há muitas pesquisas que associam rupturas nos ritmos circadianos perda de horas de sono e o risco de desenvolver um câncer da próstata.
É onde entra a melatonina, um hormônio. Comparando homens com câncer da próstata e homens com hiperplasia benigna da próstata, os cancerosos tinham níveis mais baixos de melatonina.
Uma pesquisa feita na Islândia calculou o risco de PCA (todos os tipos), câncer avançado (fora da próstata) e de morte por esse câncer. Usou exames de urina para verificar se havia deficiências na melatonina a partir dos níveis de aMT6s, que é o metabólico primário da melatonina encontrável na urina. Os registros islandeses incluem diagnóstico e morte por câncer da próstata no Icelandic Cancer Registry and Statistics Iceland que usa um número, sempre o mesmo, para cada cidadão. Dividiram os pacientes de acordo com o nível de aMT6s, acima e abaixo da mediana.
Fizeram vários ajustes e usaram vários controles: idade, um óbvio controle, níveis de creatinina, histórico desse câncer na família, uso de bloqueadores-beta, depressão, problemas com o sono e diabetes.
Homens com níveis baixos de aMT6s tinham um risco de ter câncer da próstata que era 47% mais elevado do que os homens com alto nível de aMT6s; já o risco de ter essa doença em nível avançado era quatro vezes mais elevado (RR: 4,04; 95% CI, 1,26–12,98).
A melatonina pode reduzir o câncer da próstata ajudando a tornar regular o sono e a reduzir o déficit de sono, se houver, e talvez diretamente porque há estudos experimentais in vitro e in vivo que mostram que a melatonina inibe o crescimento das células cancerosas.
A melatonina tem efeitos colaterais e interações com outros medicamentos. Os pacientes podem ser prejudicados se tomarem esse suplemento por conta própria. Há uma tendência que muitos de nós, pacientes, temos em acreditar em “curas milagrosas” dissociadas de qualquer religião. Não saiam por aí tomando altas quantidades de melatonina, que é um comportamento comum e irresponsável entre pacientes de câncer. Idealmente, consultem um oncólogo e/ou um urólogo formado numa boa universidade e que se mantenha atualizado, lendo e participando de congressos, antes de tomar qualquer medicamento ou suplemento.
Talvez essa leitura interesse a algum paciente, seus amigos ou parentes.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ