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PSA: testar ou não testar?
PSA: TESTAR OU NÃO TESTAR?
Há um debate antigo relacionado ao câncer da próstata: fazer triagem com o teste de PSA ou não. O PSA é um teste imperfeito, com falsos positivos e falsos negativos.
Falso positivo: um PSA alto sugere câncer, mas não há câncer;
Falso negativo: um PSA baixo sugere que não há câncer, mas há.
Combinado com o toque retal, os erros diminuem. Quando a suspeita é grande, o médico (usualmente urólogo) recomenda ou não uma biópsia. Porém, a biópsia é probabilística e também tem falsos negativos: não encontram nada, mas o câncer está num lugar onde não enfiaram as agulhas… Mais agulhas, melhor distribuídas e melhor dirigidas reduzem os erros.
Esses testes não acontecem num universo sem emoções: há tensões, estresse, medo, angústia e até infecções, sobretudo no caso das biópsias feitas em hospitais e consultórios de baixa qualidade.
Porém, saber se o paciente tem ou não o câncer é apenas um passo, uma das perguntas. Mesmo se tivessemos um teste sem falsos positivos e falsos negativos, ainda poderíamos questionar a sabedoria de fazer exames regulares de PSA. Não é só ter ou não ter que conta, resta saber se, mesmo que haja câncer, vale a pena saber que ele existe. A última vez que li uma contagem dos tipos de câncer da próstata havia vinte e cinco tipos diferentes, alguns praticamente inócuos e outros virulentíssimos. Como separar os tipos de acordo com a sua agressividade? A biópsia permite fazer – se uma agulha encontrar o câncer – isso e, ainda hoje, usamos o Escore de Gleason (quanto mais alto, pior) que é uma soma: o tipo de célula cancerosa mais comum na biópsia, vem primeiro, e o segundo mais comum vem depois. Alguns defendem que é útil conhecer o terceiro mais comum. As células mais agressivas são as menos diferenciadas, que só fazem se reproduzir, multiplicar e multiplicar.
Um dos resultados de biópsia mais comuns, que divide as opiniões é o 3+3. Acima disso, com total 7, 8, 9 ou 10, quase todos tratam o paciente e o fazem agressivamente: jogam todas as cartas. Jogam para valer e tentar curar.
O PSA oferece mais do que isso: a velocidade com que ele cresce, chamada de PSA velocity importa: estatisticamente, ela se relaciona com o risco de que, depois do tratamento primário (o primeiro que fizermos com a intenção de curar, como cirurgia, radioterapia etc.) o câncer volte; também se relaciona com o risco de morrer deste câncer e, finalmente, com o tempo de sobrevivência. Afinal, uma coisa é morrer dois anos depois do diagnóstico e outra é morrer vinte anos depois.
Outra medida é comumente aplicada aos mesmos dados, o PSADT. Difere do anterior porque é um cálculo do tempo em que o PSA leva para dobrar. Também se relaciona com tudo com que o PSA velocity se relaciona, um pouco melhor, dizem seus defensores, porque o crescimento do PSA frequentemente não é linear e sim exponencial.
Um grupo americano de especialistas concluiu que não vale a pena testar toda a população masculina de x anos e mais, cada y anos. Gera angústia, estresse, medo, gastos desnecessários e mais. Outros contra-argumentam: na população americana um em cada seis homens tem ou terá câncer da próstata. Ou seja, de acordo com o National Cancer Institute, 242 mil serão diagnosticados naquele país em 2012. Aproximadamente, um em cada 34 homens morre devido ao câncer da próstata. Fazendo os cálculos, são mais de 28 mil mortes por ano, somente nos Estados Unidos.
A incidência e a prevalência deste câncer (em taxas) são muito mais baixas nos países asiáticos e, diagnosticado o câncer, a sobrevivência é menor em quase todos os países do que nos Estados Unidos. Os americanos comem mal, vivem mal, e têm mais câncer da próstata, mas tratam melhor e mais eficientemente.
Há portanto, a primeira decisão: testar ou não testar, e a pergunta associada, se não testarmos todos, quem testar?
Uma pesquisa feita na Europa, que acaba de ser publicada, produziu novas informações e levantou novas dúvidas: homens que eram testados de quatro em quatro anos, como parte de uma rotina preventiva, tinham um risco 30% mais baixo de morrer desse câncer. Feitos todos os cálculos, veio um resultado perturbador: os testes regulares não aumentavam a esperança de vida em geral. Os testados morriam um pouco mais de outras causas do que os não testados, o que compensava o ganho nas mortes com o câncer da próstata.
A pesquisa foi grande, mais de 182 mil homens em oito países europeus, todos entre 50 e 74 anos, que foram acompanhados durante 11 anos.
Onze anos? Parece muito? Alguns argumentam que não é porque a taxa específica devida ao câncer da próstata não se reduziria quinze ou vinte anos depois do tratamento.
O Dr. Fritz Schroder, professor de urologia na Erasmus University, concluiu que não há dúvida de que o risco de morrer do câncer da próstata é trinta por cento menor entre os testados, mas trinta por cento desses cânceres descobertos são insignificantes, lentos, e os pacientes morrerão de outras causas muito antes do que morreriam devido ao câncer da próstata.
Onde ficamos? Posso dizer o que talvez seja um novo consenso: os que têm fatores de risco ou sintomas devem ser testados regularmente (os com câncer da próstata na família, os negros, os fumantes, os obesos etc). Não obstante, testar ou não testar é e deve continuar sendo uma decisão do paciente, ainda que muito bem informada pelo médico.
É importante continuar pesquisando novos testes não invasivos que, isolados ou em combinação com os existentes, reduzam tanto os falsos positivos quanto os falsos negativos e indiquem a agressividade do câncer. Talvez sejam novos e melhores exames de sangue, talvez sejam de urina, possibilidade levantada por um experimento esdrúxulo com cães farejadores que parecem poder separar os cânceres agressivos dos não agressivos. Se essa possibilidade se confirmar, talvez seja possível desenvolver testes feitos com a urina que poderiam classificar os pacientes de acordo com a agressividade do câncer.
Estranho exemplo da afirmação de que “sai na urina”…
Gláucio Soares IESP/UERJ
O cotidiano da dor
O cuidado e o tempo que uma criança requer tão pouco diminui quando o pai se afasta – ao contrário, aumenta. Autoridade e responsabilidade ficam concentradas em mães que, não obstante, são obrigadas a se desdobrar para recuperar parte da renda perdida. No caso de Neuza, não houve, nem poderia haver, supervisão e autoridade.
A experiência do cirurgião pode decidir se você vive ou se você morre
Mais uma vez, a questão da inexperiência de alguns cirurgiões e seus efeitos. Caroline Savage e Andrew Vickers do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center estudaram a relação entre o número de prostatectomias feitas pelo cirurgião e o êxito da cirurgia. Quanto ganhamos com um cirurgião experiente? Qual o aumento do risco de complicações e morte por ser operado por um cirurgião menos experiente?
` Savage e Vickers ordenaram os cirurgiões por experiência e os subdividiram em quatro partes iguais, ou quartís. O quartil de cima corresponde aos mais experientes.
Há 20% menos complicações entre os que foram operados por cirurgiões mais experientes em relação aqueles que foram operados por cirurgiões menos experientes. Depois de cinco anos, o risco de volta do câncer era de 10,9% no quartil de cima em comparação com 175 no quartil de baixo.
Quantas cirurgias qualificam o médico para operar com o menor risco? A partir de duzentas e cinqüenta. Quantas cirurgias fizeram os médicos com os piores resultados? Menos de dez.
O que assusta é quantos cirurgiões menos qualificados operam. Mais de 80% dos 933 cirurgiões estudados tinham um volume anual de dez cirurgias ou menos – menos de uma por mês.
Para atingir o nível desejado de resultados com os pacientes, seriam necessárias 25 cirurgias anuais durante dez anos para atingir o nível de 250.
Evidentemente, nas áreas metropolitanas com alta densidade de hospitais de referência, proporcionalmente mais pacientes são operados por cirurgiões experientes – 40% em Nova Iorque e 20% no resto do país. Um cirurgião eficiente arrasta consigo o hospital e seu staff. Forma centros e outras pessoas. Ou seja, os benefícios vão além da habilidade do cirurgião em si.
Por isso, pergunte quantas cirurgias da próstata seu cirurgião já fez. Se for inexperiente, vá a um centro de referência. Não economize no que pode ser a experiência mais importante da sua saúde em toda a sua vida.
