E SE A BIÓPSIA ESTIVER ERRADA?

Os testes de PSA não demonstram nem eliminam o risco de câncer: o câncer é menos provável nos níveis muito baixos e mais provável nos muito altos. Mesmo assim, há erros. A biópsia, com frequência, é recomendada ao paciente “to rule out” a possibilidade de câncer; para eliminar a presença de câncer. É uma formulação errada, que tem levado muitos pacientes a decisões que não teriam tomado se soubessem que as biópsias têm falsos negativos. A biópsia não mostra, mas o câncer está lá. A biópsia também é probabilística. Não é infrequente que as agulhas não atinjam a região em que o câncer está presente. Eu fiz dez (isso mesmo, DEZ) agulhas e não encontraram o câncer, mas ele estava lá e era agressivo. Não obstante as biópsias, o PSA continuou subindo e foi necessária uma nova série de agulhas. Só aí apareceu o câncer.

Evidentemente, se tivermos testes mais exatos, menos erros, menos dor e incômodos associados com as biópsias, menos gastos. As biópsias por saturação, com maior número de agulhas. Reduzem, mas não eliminam, o risco de erros.

Esses erros, os falsos negativos, podem atrasar o tratamento, dando mais tempo ao câncer de se desenvolver e de sair da cápsula prostática. Se sair, é difícil curar e tudo fica mais difícil.

Nos Estados Unidos, são realizadas perto de um milhão de biópsias por ano. Felizmente, a maioria – 3 em 4 – são negativas mas em alguns desses casos há câncer que não foi detectado pela biópsia.

Porém, é possível melhorar esses resultados. Uma nova técnica, chamada de biópsia orientada, permite dirigir a biópsia para áreas que visualmente parecem ter câncer. Os pacientes passam por MRI e os resultados visuais são integrados nos resultados dos exames de ultra-som. É um procedimento que permite que quem faz a biópsia possa ver as diferentes áreas na tela do computador e guie as agulhas para aquelas áreas. Uma pesquisa com 171 voluntários recém publicada no Journal of Urology que tinham um PSA elevado ou um câncer que crescia lentamente, o câncer foi encontrado em 53%. Mais importante, 38% tinham canceres muito agressivos.

Melhorou? Muito! É um nível satisfatório de erro? Não. Precisamos de testes exatos, sem erros, sem falsos positivos nem falsos negativos.

 

 

GLÁUCIO SOARES      IESP-UERJ

CAI A MORTALIDADE POR CÂNCER DA PRÓSTATA NA ESCÓCIA

Os progressos no tratamento do câncer da próstata e sobrevivência aparecem nas estatísticas escocesas. Cancer Research UK (CRUK) atribui a crescente sobrevivência dos pacientes à melhores tratamentos.

Na Escócia, cerca de 2.700 homens são diagnosticados com câncer da próstata. Os diagnosticados mais recentemente se beneficiaram de tratamentos mais modernos e eficientes. O seu conjunto não constitui uma panaceia, mas a taxa das mortes por cem mil homens caiu de cerca de 29 no início da década de 90 para cerca de 24 no presente. É uma melhoria substancial, de aproximadamente vinte por cento, mas não é milagre. Reflete o tipo de progresso dos medicamentos que postergam a morte em alguns ou muitos meses, mas sem pretensão à cura.

No período estudado, entre 1990-92 e 2008-10, as taxas de morte caíram 21% na faixa “jovem”, de 45 a 54 anos de idade; 25% entre 55 e 64 anos; 29% entre 65 e 74, e 25% no grupo de idades que vai de 75 a 84. No grupo com 85 ou mais o progresso foi mínimo, talvez porque não foram tratados com terapias igualmente intensivas, talvez com receio dos efeitos colaterais, inclusive a morte.

GLÁUCIO SOARES             IESP/UERJ

Morrer em vida

“O importante é interromper o quanto antes o circuito da melancolia fazendo algo de bom por si mesmo, a fim de que Deus não o encontre de braços cruzados esperando a morte chegar”.

José Carlos De Lucca, O MÉDICO JESUS

 

Lembrem-se, meus amados leitores, de que a vida só acaba quando já acabou. Especular a respeito do fim é desperdiçar tempo e energia pensando a respeito de algo que é, ao mesmo tempo, incognoscível e inevitável. Não há como escapar da morte e não há como saber, com exatidão, quando e como ela virá. Por isso, dedique-se a viver e não a morrer em vida.

Não pense que nós, que enfrentamos essa besta há muito tempo, somos diferentes. Caímos em depressão, tristeza, raiva, sentimento de ser injustiçado, choro, angústia e tudo o mais. Eu não choro mais a morte que virá, mas a vida que não vivi, ou que não vivi intensamente.

Dê-me uma alegria. Saia do buraco. Vá viver e fazer o bem.

 

Gláucio Soares

 

Em tempo: eu estava exatamente mergulhado no torpor, triste com a minha falta de energia, sem ver que eu havia desligado a fonte. Resolvi escreve, minha forma de sair do buraco e fazer o bem. Se consegui, ganhei o dia, o mês, o ano – a vida.

MAIS MUNIÇÃO NA GUERRA CONTRA O CÂNCER

Uma ampla pesquisa (Fase III) patrocinada pela Medivation foi interrompida porque os resultados preliminares mostravam que os pacientes tratados com Xtandi tinham uma sobrevivência maior do que a do grupo controle.

Há muitos, muitos pacientes com canceres avançados que não fizeram químio. Essa população, chamada de pré-químio, é um mercado para o qual se dirigiu esse medicamento. A pesquisa, chamada “Prevail”, foi interrompida e a empresa buscou ampliar a licença para o medicamento, Xtandi.

Xtandi reduziu o risco de morte de pacientes em 30%, em comparação com o grupo controle, que recebeu um placebo. É uma diferença humana e estatisticamente significativa.

O noticiário informa que esses bons resultados chegaram ao coração do capitalismo: as ações da Medivation foram valorizadas em 9%…

 

GLÁUCIO SOARES        IESP/UERJ

Vídeo de oncólogo que é canceroso

Vídeo/depoimento que pode interessar:

​Do Dr. Celso Fernandes​ Jr.

 ​,

 

​Médico Urologista de Londrina – PR​., ao publicitário Pedro Francisco, gravado em abril de 2013.
 

Quando falha a primeira linha de tratamento hormonal

Segundo os autores de uma pesquisa, a combinação entre ketoconazole e dutasteride é um bom recurso para muitos pacientes que já não respondem a tratamentos hormonais de primeira linha, como o Lupron. Uma pesquisa  Fase II tinha produzido bons resultados: em 56% dos casos houve uma redução do PSA e o fracasso bioquímico foi postergado, situando-se em 14,5 meses.

Nesta pesquisa com 26 pacientes que foram tratados com ketoconazole 800mg/d, hidrocortisona 30mg/d e dutasteride 0.5mg/d (K/H/D) também foram notados resultados positivos. Os pacientes tinham, na mediana, 70 anos e o PSA andava em 84 ng/ml, também na mediana, antes da terapia. Sete dos pacientes tiveram uma redução significativa no PSA (≥50%). É um ponto de corte importante, porque os com redução menor do que 55 dias tiveram na mediana apenas 55 dias até que o PSA voltasse a subir, ao passo que os que tiveram uma redução ≥50%, o fracasso bioquímico demorou 274 dias, na mediana, e o experimento continuava, o que significa que a mediana do tempo até o fracasso bioquímico deveria aumentar.      

Os autores concluíram que a combinação de ketoconazole, hidrocortisona e dutasteride em subconjunto de pacientes que já não respondiam à primeira linha de tratamento hormonal trouxe benefícios. O primeiro desafio é identificar quais os pacientes que responderão a esse tratamento e quais os que não responderão; para os que respondem há claros benefícios – baixa do PSA e aumento no tempo até que o PSA volte a crescer.

 

Saiba mais: C. H. Ohlmann, M. Ehmann, J. Kamradt, M. Saar, S. Siemer, M. Stöckle; Saarland University, Homburg, Germany em J Clin Oncol 29: 2011 (suppl; abstr e15166).

 

GLÁUCIO SOARES            IESP/UERJ

Acesso vedado ao progresso científico

Uma notícia a respeito do possível início de testes com seres humanos usando terapia desenvolvida na Universidade de Otago, Nova Zelândia, não pode ser divulgada porque foi aprisionada pela

nzdoctor.co.nz. 

O acesso é pago e é caríssimo. Nós defendemos o livre acesso ao conhecimento e não usamos mais fontes pagas.

 

GLÁUCIO SOARES                 IESP-UERJ

O MAL ENTENDIMENTO DOS OBJETIVOS DA QUIMIOTERAPIA NOS CÂNCERES MUITO AVANÇADOS

Paula Span publicou um excelente artigo sobre como as pessoas torcem a informação que lhes é dada pelos seus médicos. Foi publicada em End of Life Care, de novembro de 2012.

Comecemos enfatizando que a comunicação entre médicos e pacientes nos Estados Unidos tende a ser diferente da que observamos no Brasil. Lá, os médicos não douram a pílula: pão-pão, queijo-queijo!

No que concerne pacientes de câncer do pulmão e do cólon com Estágio IV, químio não salva, não conduz à cura. Aumenta a sobrevivência em semanas ou meses e produz efeitos colaterais pesados.

Numa pesquisa com mil e duzentos pacientes com canceres adiantados foram feitas várias perguntas. No que concerne à probabilidade de que a quimioterapia curasse o câncer a única resposta correta seria “nenhuma”. Não foi isso o que os pacientes responderam. Nada menos de 69% dos pacientes com câncer do pulmão e de 81% dos pacientes com câncer do cólon não entenderam o objetivo do tratamento que seguiam.  

Em cada nível educacional, o erro era maior entre pacientes negros e hispânicos do que entre pacientes brancos, sugerindo que fatores culturais explicavam parcialmente as diferenças entre as pessoas. Ironicamente, foram os pacientes que compreenderam mal as instruções os que deram nota mais alta à capacidade de comunicação dos mesmos.

A escolha entre fazer e não fazer quimioterapia em pacientes com canceres tão avançados é uma escolha dos próprios pacientes informados pelos médicos. Nesse nível, a químio é paliativa e não curativa. Como os efeitos colaterais são pesados, há uma escolha real que deve levar em conta os benefícios e os malefícios.

Muitos pacientes ouvem o que querem ouvir, sendo provável que suas redes familiares e de amigos reforce as interpretações mais favoráveis (e nada realistas). Os médicos e outras pessoas da área médica devem se preparar para enfrentar essa ilusão.

 

 

GLAUCIO SOARES       IESP-UERJ

O MAL ENTENDIMENTO DOS OBJETIVOS DA QUIMIOTERAPIA NOS CÂNCERES MUITO AVANÇADOS

 

Paula Span publicou um excelente artigo sobre como as pessoas torcem a informação que lhes é dada pelos seus médicos. Foi publicada em End of Life Care, de novembro de 2012.

Comecemos enfatizando que a comunicação entre médicos e pacientes nos Estados Unidos tende a ser diferente da que observamos no Brasil. Lá, os médicos não douram a pílula: pão-pão, queijo-queijo!

No que concerne pacientes de câncer do pulmão e do cólon com Estágio IV, químio não salva, não conduz à cura. Aumenta a sobrevivência em semanas ou meses e produz efeitos colaterais pesados.

 

Numa pesquisa com mil e duzentos pacientes com canceres adiantados foram feitas várias perguntas. No que concerne à probabilidade de que a quimioterapia curasse o câncer a única resposta correta seria “nenhuma”. Não foi isso o que os pacientes responderam. Nada menos de 69% dos pacientes com câncer do pulmão e de 81% dos pacientes com câncer do cólon não entenderam o objetivo do tratamento que seguiam.  

Em cada nível educacional, o erro era maior entre pacientes negros e hispânicos do que entre pacientes brancos, sugerindo que fatores culturais explicavam parcialmente as diferenças entre as pessoas. Ironicamente, foram os pacientes que compreenderam mal as instruções os que deram nota mais alta à capacidade de comunicação dos mesmos.


A escolha entre fazer e não fazer quimioterapia em pacientes com canceres tão avançados é uma escolha dos próprios pacientes informados pelos médicos. Nesse nível, a químio é paliativa e não curativa. Como os efeitos colaterais são pesados, há uma escolha real que deve levar em conta os benefícios e os malefícios.

Muitos pacientes ouvem o que querem ouvir, sendo provável que suas redes familiares e de amigos reforce as interpretações mais favoráveis (e nada realistas). Os médicos e outras pessoas da área médica devem se preparar para enfrentar essa ilusão.

 

 

GLAUCIO SOARES       IESP-UERJ

E agora?

Fiz um teste que usa regressões estatísticas, cujo objetivo é proporcionar uma estimativa da sua expectativa de vida. Pergunta coisas como se fuma, quanto tempo fumou, que idade tinha seu pai quando faleceu, idem sua mãe etc. etc.

De acordo com esse programa, eu morri há um ano e meio. Ou estou em pleno Sexto Sentido – morri e nem sei – ou já estou no lucro.

Para divertir meus leitores esse fim de semana.

 

Gláucio Soares