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CUIDADO COM O PSA DURANTE O TRATAMENTO COM ENZALUTAMIDA
Um dado recente preocupa os pacientes com câncer da próstata que tomam enzalutamida (Xtandi). Esse medicamento tem sido usado em pacientes que desenvolveram resistência ao tratamento hormonal com medicamentos “tradicionais”, que estão no mercado há duas, três décadas ou mais.
Qual o dado?
Encontraram um número surpreendentemente grande de pacientes usando enzalutamida que, a despeito de terem um PSA estável, ou até em declínio, que apresentavam avanço da doença de acordo com os exames radiológicos.
O PSA começou a ser usado na triagem de casos com suspeita de câncer da próstata em 1987; a FDA aprovou o PSA no sangue como teste sete anos depois, em 1994.
É um teste de fácil obtenção e relativamente barato e nesse quarto de século se tornou o indicador mais usado na triagem. A confirmação mais usada durante esse período requeria biópsia.
Vários indicadores foram desenvolvidos com base no PSA, como o tempo que ele leva para dobrar (o PSADT), o nível mais baixo que ele atingiu (que é chamado de nadir), o tempo até que o PSA volta a ser detectado após não poder ser detectado depois de uma cirurgia e muito mais. É o indicador mais usado na prevenção, detecção, diagnóstico e acompanhamento, embora sempre abrigando controvérsias.
Isso significa que, para um grupo de pacientes com câncer avançado da próstata, que estão sendo tratados com enzalutamida, que o PSA estável ou em declínio tem menor utilidade como indicador de que o câncer não está avançando.
Ruim para todos nós.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ
DUAS VACINAS PARA AJUDAR A TERAPIA HORMONAL
Uma esperança para os que fazem terapia hormonal. A Madison Vaccines Incorporated (MVI) acaba de anunciar um “clinical trial” de seu tratamento MVI-118 que foca no receptor de andrógeno humano. É um alvo importante porque, dependendo do seu funcionamento, o câncer progride ou não. O câncer “hormone refractory”, que já não responde ao tratamento hormonal, acarreta uma taxa de morte e de sofrimento muito maior. É um salto para o pior.
É bom saber que o câncer da próstata raramente mata a pessoa pelo que ele faz na próstata; é a metástase que mata. É quando ele sai da capsula prostática e se instala em outros lugares que ele mata. Os ossos são o destino mais comum, mas há muitos casos de metástases para órgãos, para “soft tissues”.
O tratamento hormonal, frequentemente feito após a cirurgia e/ou a radioterapia (incluídas aí todas as suas formas e intensidades), tem duração limitada. No Brasil, o mais usado é o Zoladex; nos hospitais americanos de ponta, é o Lupron. Não obstante, mais cedo ou mais tarde, o câncer se torna refratário e volta a crescer. Mais tarde pode ser muitos anos. Vi recentemente mesa redonda entre oncólogos e urólogos de renome e um deles revelou que um de seus pacientes respondia bem há dezenove anos. É um caso extremo. A mediana é muito menor.
E o MVI-118?
O Pesquisador Responsável, Douglas McNeel, responde:
“MVI is developing our two DNA vaccines for men throughout the spectrum of progressive prostate cancer, in pre-metastatic, in early metastatic, and in late-stage disease”.
Trabalham com duas vacinas, que serão (esperamos) aplicáveis a pacientes antes da metástase, no início da metástase e com metástase avançada.
O objetivo não é curar, mas prolongar o efeito do tratamento hormonal, o tempo durante o qual ele é eficiente. Como o câncer da próstata é uma doença de idosos (há exceções), prolongar o efeito, realisticamente, é dar a oportunidade ao paciente de morrer de outras causas, menos dolorosas.
Muitos pacientes bem informados acabam fazendo cálculos (e tomando decisões baseadas neles) não apenas sobre a maneira de viver, mas também sobre a maneira de morrer. O que nenhum de nós quer é morrer após um período de dores indescritíveis causadas pelas metástases ósseas.
A MVI-118 é uma das duas vacinas, que seria relativamente barata, e que não teria que ser individualizada como a Sipuleucel-T (Provenge), que está saindo do mercado por ser custosa e de difícil preparação.
A segunda vacina, chamada MVI-816, está sendo desenvolvida e testada já numa pesquisa Fase II com pacientes cujo PSA voltou a crescer a despeito do tratamento hormonal. Seu objetivo é retardar o avanço do câncer.
Essa vacina também está sendo desenvolvida em conjunção com um inibidor PD-1, cuja função é expor as células cancerosas ao nosso sistema imune.
Esses processos são longos. Esperam publicar os resultados em 2018.
Há dois dias encontrei, numa lanchonete, um senhor dez anos mais moço do que eu. Seu PSA de 54 indica câncer. Sugeri que se informassem mais, que lessem, dei o nome de blogs. Ele afirmou que tinha apenas 10% da visão e a esposa desconversou. Insisti, e ficou claro, para mim, que se passar pela leitura não vai acontecer. A falta do hábito de ler e, certamente, a rejeição da leitura impede que dezenas de milhões de brasileiros e brasileiras se tratem adequadamente. Podem perder anos de vida, perder muitas oportunidades e ganhar muito sofrimento por essa rejeição. Cabe a leitores como você informa-los e ajuda-los e acender a luzinha da esperança, que tende a se apagar em todos nós que enfrentamos essa doença.
GLÁUCIO SOARES
Saiba mais:
Informações sobre essas vacinas estão disponíveis em
Quando usar a químio?
Volta à baila o momento adequado para a quimioterapia. R E Miller e C J Sweeney reanalisaram os dados (Fase III) de três testes clínicos nessa área, chamados GETUG15, CHAARTED and STAMPEDE. Testaram o uso de docetaxel em combinação com a terapia hormonal (ADT) e constataram que há ganhos na duração em que o câncer não progride (progression-free survival). Porém, no que tange a sobrevivência, duas das três bases de dados, (CHAARTED e STAMPEDE), mostraram ganhos clinicamente significativos, mas a pesquisa GETUG15 não mostrou ganho significativo. Muitas vezes, as diferenças entre os resultados de pesquisas se devem a diferenças metodológicas, inclusive entre as amostras.
Ficamos na expectativa….
O estudo foi publicado online em Prostate cancer and prostatic diseases. 15 de Março de 2016.
GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ