PARA ONDE VAI O TRATAMENTO DO CÂNCER DA PRÓSTATA?

PARA ONDE VAI O TRATAMENTO DO CÂNCER DA PRÓSTATA?[i]

O que nós, pacientes do câncer da próstata, podemos aspirar? Realisticamente, até onde podemos ir?

Hoje, eu arriscaria o palpite que a maioria dos esforços e das aspirações se dirige para a transformação deste câncer de uma doença letal em uma doença crônica. Creio que, lá no fundo, todos, pacientes e médicos, desejamos a cura – por nós e para nós, por todos e para todos. Porém, realisticamente, os resultados e progressos que temos visto até agora apoiam a ampliação da sobrevivência, ainda que algumas pesquisas usando novas ideias acenem com uma possível cura. Se o percurso seguido por essas pesquisas seguir o “tempo” das anteriores, serão muitos anos, possivelmente mais de uma década, até que estejam nas farmácias.

Um conceito que vem crescendo é o da medicina personalizada. Tratamentos novos, como a abiraterona e a enzalutamida, aumentam a esperança de vida em muitos meses, ou até alguns anos, em muitos pacientes, mas não funcionam em outros, cuja sobrevivência não aumenta e ainda por cima devem enfrentar os efeitos colaterais desses medicamentos. São os mesmos medicamentos, mas os resultados são diferentes. Impõe-se a conclusão de que os pacientes são diferentes. É uma constatação que reforça o conceito de medicina personalizada.

Algumas terapias, inclusive as mais comuns, como a hormonal, produzem resultados muito diferentes. Li, recentemente, a declaração jocosa de um médico-pesquisador que bastava que todos se comportassem como um dos seus pacientes que há 19 anos responde bem à terapia hormonal. Em contraste, alguns não respondem e não aumentam a sobrevivência.

Comparando os que respondem e os que não respondem aumentamos o conhecimento. Por exemplo: os que expressam uma versão danificada do receptor andrógeno AR-V7 não respondem aos tratamentos de eficiência comprovada, Zytiga (acetato de abiraterona) e Xtandi (enzalutamida). Como os pacientes de câncer da próstata são centenas de milhões no mundo, os que não respondem são um mercado importante e já há empresas investindo em pesquisas sobre tratamentos diferentes (usando, por exemplo, a galeterona) para essas populações.

Minha opinião leiga, de paciente: os eixos principais da pesquisa médica e biológica estão mudando, do medicamento para o paciente e da busca de uma cura do câncer (sempre desejada) para a sua transformação em uma doença crônica.

Aconselho a leitura do trabalho de Maha Hussain, Professor of Medical Oncology na Universidade de Michigan, “In 2016, What is Progress in the Treatment of Hormone-Naïve Prostate Cancer?”, publicado em 17 de janeiro de 2016.

GLÁUCIO SOARES IESP-UERJ


[i] Envie para um paciente, sua família e seus amigos, se você achar que essas informações podem ajudar.

Deixe um comentário