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Minha terceira visita ao Sloan-Kettering trouxe poucas novidades, exceto uma pressão implícita para decidir quando iniciar essa maldita terapia hormonal.
Qual é o timing sequencial dessa terapia? Quinze dias tomando uma pílula diária; uma injeção, mais quinze dias de uma pílula diária: há tratamentos de 3, 4 e, mais recentemente, seis meses. O tempo até a sessão seguinte depende do comportamento do PSA. A preferência das três equipes que consultei é pelo tratamento intermitente, cuja interrupção durará enquanto o PSA (marcador bioquímico de quanto câncer existe no seu corpo) ficar abaixo de um limite, 0,01. O limite do detectável, há uns anos, era abaixo do 0,1 pelos equipamentos existentes que, não obstante, ficaram mais exatos e, agora detectam valores bem inferiores (cem vezes – dizem os fabricantes) aos de quinze anos atrás.
Há alguns ganhos em começar mais cedo, mas o médico os definiu como “small”. Mas, se há ganhos, por que não começá-lo logo? Por que os efeitos colaterais do luprolide são pesados e quanto mais tempo se viver sem eles, melhor.
Entre eles:
·       Fadiga extrema;
·       Calores;
·       Náuseas;
·       Aumento substancial de problemas (inclusive morte) cardiovasculares;
·       Fim da tesão. Fim mesmo. Eu já me havia acostumado a, de vez em quando, olhar para mulheres interessantes e sair fantasiando, mesmo tendo me tornado invisível para elas (não me vêem, não me percebem etc.), mas não ter nem tesão é dose;
·       Osteoporose. O tratamento reduz a densidade óssea e os acidentes desse tipo aumentam;
·       Aumento de peso;
·       Aumento da pressão arterial;
·       Aumento do colesterol;
·       Etc., etc.
E o médico?
Como bom médico americano, te explica tudo, mas a decisão (e a responsabilidade) é tua, somente tua. Ele deixou mais duas coisas claras:
não acredita em que tomar Avodart produza benefícios (o único que faria seria mascarar o PSA), o que é realçado pelo fato de que o pesquisador que publicou todos, ou quase todos, os relatórios favoráveis trabalha para a SmithKline; tão pouco vê sentido em fazer outra tomografia computarizada porque a dose de radiação que eu receberia é equivalente a 300 raios-x do tórax e, num resultado positivo, o tratamento seria o mesmo. O tratamento não varia, o momento de começá-lo sim.
Há problemas logísticos. Se não puder tomar as pílulas em outro lugar (se houver necessidade de monitoramento), terei que passar um mês inteiro aqui cada x (provavelmente 3, 4 ou 6 ) meses, com implicações para o meu trabalho etc. Alem disso, um mês num hotel em NY é dose. Eu detesto a cidade. E mesmo que caia como uma pedra na casa de meu filho, a época não poderia ser pior: fim da gravidez da minha nora e, brincando, brincando, são mais de duas horas de trem e subway para ir ao médico e outro tanto para voltar. Todos os dias? Pela experiência de ontem, meu filho acha que eu não agüento a parada. Tem razão.
Tenho um carro aqui. Em verdade, uma van, super-equipada, velha e em maravilhosa condição. Se for somente a injeção que requer minha presença no hospital, faria uma ou duas viagens por aqui. Posso fazê-la sozinho. É uma das maneiras como tento enfrentar a vida e, sobretudo, a velhice e a morte. Só, “being brave”. Assim fiz todas as minhas cirurgias.
Se envio isso para você, é porque está na minha lista de pessoas amigas do peito, confiáveis, de quem eu gosto muito.
Gláucio

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